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Nitrogênio em Uva de Mesa


Nitrogênio em Uvas de Mesa

As uva de mesa não têm uma exigência alta de nitrogênio (N) quando comparadas a muitas outras culturas. Um alto teor de nitrogênio na planta em determinadas fases é prejudicial à qualidade de ambos os tipos de uvas, seja uva de mesa, sucos ou vinhos. Níveis altos de N podem afetar adversamente a capacidade das videiras de resistir ao ataque de pragas e doenças e diminuir a produtividade e a qualidade da produção devido ao aparecimento de várias desordens fisiológicas. Doses inadequadas de nitrogênio podem reduzir o rendimento e a lucratividade do negócio. Por isso é importante entender e identificar as necessidades da videira.

De acordo com Bañados (2000), o nitrogênio é o nutriente mais amplamente utilizado em videiras, e pode ter grande influência sobre o desenvolvimento reprodutivo e vegetativo. Seu uso será adequado desde que se mantenha o balanço ideal com os outros elementos, principalmente com potássio (K) e fósforo (P). O uso excessivo de nitrogênio nas videiras pode ocasionar abortamento de frutos pela desordem nutricional conhecida como necrose do cacho, diminuição de fertilidade e pode afetar o crescimento e qualidade de bagas uma vez que causa outras desordens nutricionais como desidratação de engaço e outras fisiopatias. Somente através de um bom conhecimento dos mecanismos do nitrogênio no solo e na planta e um adequado monitoramento deste, se pode manter um programa racional de fertilização nitrogenada em videiras.

A implementação de sistemas de irrigação localizada permite realizar aplicações controladas de acordo com cada fase fenológica da videira, sendo possível fornecer nitrogênio de forma controlada para aumentar o vigor vegetativo, aumentar o crescimento e tamanho de bagas, ou ainda armazenar reservas que serão armazenadas para serem utilizadas no próximo ciclo produtivo ( Goldspink, 1998). Porém uma boa parcela dos produtores do Vale do São Francisco ainda realizam adubação à lanço e irrigação por superfície ou gravidade o que dificulta esse controle.

O nitrogênio é um elemento essencial que forma parte das estruturas protéicas da planta e também um elemento estrutural que estimula o crescimento, especialmente de folhas e ramos. Em videiras o nitrogênio é absorvido pelas raízes, principalmente na forma de nitrato (NO3-) e na forma de amônio (NH4+) podendo ser assimilado tanto pelas raízes como pelas folhas (Bañados, 2000). Consulte também o artigo "Relação Nitrato : Amônio nas plantas". Seu excesso pode afetar o balanço hormonal e sua deficiência produz clorose ou amarelamento das folhas. Em caso de extrema deficiência as folhas da base ficam bastante amareladas devido a sua translocação para as folhas mais jovens, haja vista que se trata de um elemento móvel na planta. A falta de umidade no solo e a falta de luz também produz o mesmo sintoma. A deficiência do nitrogênio é bastante rara e acarreta em baixo vigor, baixo desenvolvimento vegetativo, menor calibre e qualidade de ramos, precocidade da maturação, enquanto o excesso produz coloração verde brilhante intensa e escura nas folhas, ocasionando atraso na maturação dos frutos.

De acordo com Ruiz (2000),  excesso de nitrogênio também produz diversos efeitos negativos sobre o desenvolvimento da videira. Atualmente se sabe que por trás desses efeitos existe um gatilho hormonal, já que um excesso de nitrogênio promove a síntese de citocininas que inibem a produção de etileno e ácido abscísico, o que gera maior continuidade do crescimento vegetativo, vigor excessivo, retardamento da degradação dos pigmentos verdes na folhas, atraso da senescência e caída das folhas e sombreamento excessivo do parreiral devido a presença de camadas sucessivas de folhas. Ruiz ainda destaca que associado a esse efeito a produtividade pode ser alterada por dois fatores:

  • O sombreamento das camadas de folhas sucessivas que ocorre por excesso de vigor, faz com que as folhas das camadas inferiores se encontrem em um nível abaixo do ponto de compensação, ou seja,  convertem-se em parasitas das folhas das camadas superiores devido ao seu balanço negativo de produção de carboidratos. 
  • A falta de luz direta nas gemas afeta negativamente a indução de gemas frutíferas (figura 1).

Desordens fisiológicas promovidas pelo excesso de nitrogênio

Outro efeito negativo do excesso de nitrogênio é o aparecimento de desordens fisiológicas. O excesso de nitrogênio é uma constante em muitos parreirais do Vale do São Francisco, que se traduz em excesso de vigor, excesso de massa foliar com várias camadas de folhas, sombreamento de ramos, diminuição da ventilação, excesso de seiva livre e tecidos vegetais ricos em proteínas, fatores que acarretam em maior índice de doenças, principalmente oídio e podridões.

Muitos dos problemas de qualidade em pós colheita se devem a estes desbalanços e fertilizações excessivas, especialmente com nitrogênio, o que afeta a qualidade dos frutos / bagas. O excesso de nitrogênio nos tecidos afeta a relação C/N, N/P e N/K das plantas, promovendo e estimulando o crescimento das gemas vegetativas em detrimento das gemas reprodutivas, afetando dessa forma o número de cachos por planta e consequentemente a produtividade já que o número de cachos por plantas é uma das componentes que define a produtividade em videiras. De acordo com Marschner (1986), o excesso de nitrogênio promove o desequilíbrio entre o crescimento da parte aérea das plantas com relação a fitomassa radicular. O excesso de nitrogênio induz também a deficiência de cálcio (Righetti et al., 1990). Van-Petersen (1998) e Cummings (1965) demonstraram que o excesso de potássio e magnésio também afetam a concentração de cálcio nas frutas e consequentemente a qualidade pós colheita dos frutos.

Bañados (2000), demonstrou que as desordens fisiológicas em videiras têm sido associadas a desequilíbrios no metabolismo do N, todos eles associados a intoxicações com amônio (NH4+). Entre as desordens descritas se encontram a "febre de primavera", "necrose da inflorescência ou do cacho" e "bagas aquosas ou desidratação do engaço". Já Ruiz (2000), sinalizou que as desordens como febre de primavera e bagas aquosas estão relacionadas além da toxidez por amônio, com deficiência de potássio.

Vale ressaltar que no Vale do São Francisco, com o uso de tabelas de fertilização que não consideram as análises de solo ou foliar, cujas doses de potássio são sempre altas e na maioria das vezes desnecessárias e onerosas ao custo de produção, ainda assim a desidratação de engaço aparece bastante devido ao uso de doses excessivas de nitrogênio. Também tenho constatado que o aparecimento maior de desidratação de engaço tem acontecido em áreas onde além do excesso de nitrogênio há ruptura nutricional com o elemento magnésio ou a dose aplicada na maioria das vezes não é suficiente para atender a demanda das plantas que quando bem supridas com esse elemento conseguem expelir o excesso de nitrogênio para fora da planta na forma de amina, amenizando os efeitos do excesso de nitrogênio aplicado.

Jeverson Luiz Magrini
Assessoria e Consultoria em Fruticultura Irrigada
Raiz Consultoria

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Comentários

  1. Boa noite Jeverson na sua opinião dar pra definir uma dose media em kg/ha do Nitrogênio dentro do ciclo de maneira a não se perder potencial produtivo??
    Ou podemos considerar que esse valor depende de inúmeras variáveis(tipo do solo,variedade,condição climática,etc.)
    Em campo percebo de uma maneira geral boas produtividades com média de 40 a 60 kg/ha do N.
    Nas áreas onde temos niveis de nitrogênio acima dos 80kg/ha/ciclo percebo bastantes desordens nutricionais e fitopatologicas.
    Aqui apenas minha opinião,e no seu aguardo.
    Obrigado

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    1. Boa noite amigo. É preciso considerar o imput de nitrogênio através da água de irrigação que no caso do Vale do São Francisco tem bastante na água e varia de acordo com a época do ano e além disso deve-se levar em consideração os créditos de matéria orgânicas em função dos níveis de matéria orgânica que podem ser maiores ou menores. Cada setor uma análise e cada análise uma recomendação com base não só no solo mas no estado nutricional e calibre de ramos da safra passada.

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  2. Olá Jeverson, primeiramente, parabéns pelo compartilhamento dos dados, todos são de extrema importância para o conhecimento do produtor, principalmente quando falamos de fertilidade, onde a grande maioria pode pensar que um ou outro nutrientes são mais importantes, ou que, quanto mais melhor. Apenas gostaria de fazer uma pequena contribuição, em sua analise de regressão, eu buscaria utilizar um ajuste quadrático (polinomial) pois da forma que está nos parece que 40 kg é pior do que 0 kg, e as vezes pode confundir os usuários da informação. Parabéns novamente.

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    1. Muito obrigado pelas considerações e por ler com olhar mais profundo e atento. Isso me motiva bastante a compartilhar os resumos de meus estudos para aperfeiçoar cada vez mais as soluções no campo, frente aos problemas de meus clientes. Muito obrigado pelo carinho.

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