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Nitrogênio em Uva de Mesa - Parte II

Nitrogênio em Uva de Mesa - Parte II


1. Fornecimento de nitrogênio

Quando se fala em fornecimento de nitrogênio em videiras, é muito importante considerar a taxa de mineralização da matéria orgânica, que não é tão fácil de estimar, uma vez que trata-se de um processo de transformação bioquímica das diferentes fontes de nitrogênio presentes no solo.

A mineralização da matéria orgânica depende de fatores como umidade, temperatura e do grau de exposição física dela à oxidação, assim como da formação de complexos mais ou menos estáveis com a argila.

O fornecimento excessivo de nitrogênio favorece o crescimento vegetativo e o alongamento dos ramos (entre nós mais compridos) e inibe o crescimento do sistema radicular, afetando a relação entre a raiz e a parte aérea, diminuindo assim a eficiência de absorção de todos os nutrientes (Sierra B., 2001).

Estimar adequadamente o fornecimento de nitrogênio é fundamental para reduzir o impacto ambiental e o custo de produção (Aldrich, 1980), (Focht e Vestraete, 1977) e (Haddas, 1986), além de minimizar as perdas ocasionadas pelo excesso de nitrogênio em videiras, disponível em Nitrogênio em Uva de Mesa - Parte I.


Além da taxa de mineralização do nitrogênio no solo é muito importante estimar a quantidade de nitrogênio aportado através da água de irrigação, que é obtida através da análise da água.

2. Eficiência de absorção do nitrogênio

A eficiência da recuperação do nitrogênio aplicado depende das perdas por lixiviação, volatilização, desnitrificação e da imobilização transitória, ou seja, a eficiência da absorção do nitrogênio está diretamente ligada a capacidade da planta sustentar seu desenvolvimento com adequado crescimento do sistema radicular e das condições do solo que permitem esse desenvolvimento e redução de perdas.

A matéria orgânica é uma importante fonte de carbono para o solo que incrementa a atividade de microorganismos, especialmente na rizosfera, minimizando as perdas de nitrogênio pelo adequado balanço entre a mineralização e imobilização, dependendo da relação C/N (carbono / nitrogênio).

A mobilidade do nitrogênio no solo é maior que a mobilidade de fósforo e potássio uma vez que o nitrogênio se move por fluxo de massa e o fósforo e o potássio se movem por difusão principalmente. Isso faz com que a absorção de nitrogênio seja maior que a absorção de fósforo e potássio.

Conradie (1986) e Williams (1991) constataram variações de 30 a 50% no percentual de eficiência de absorção de nitrogênio. Ruiz e Massa (1991) encontraram valores de 15% e 30% na eficiência de absorção de nitrogênio pela cultivar Thompson Seedless. Ou seja, há uma forte influência da variedade e do desenvolvimento radicular na eficiência de absorção do nitrogênio pelas videiras.

Não só as variedades mas os porta-enxertos também tem um efeito considerável sobre a nutrição da videira.  Sierra B. e Ibacache G. (2009), constataram diferenças significativas nos níveis de nutrientes absorvidos e encontrados no pecíolo das videiras em função da utilização de vários porta-enxertos e distintas variedades. De acordo com eles as videiras enxertadas no porta-enxerto 'Salt Creek' apresentaram um teor de nitrogênio e fósforo no pecíolo significativamente mais elevado do que nas videiras de pé franco. O nível total de nitrogênio aumentou em 67% na variedade 'Flame Seedless', 77% na 'Red Globe', 33% na 'Thompson Seedless' e 8,5% na 'Superior Seedless'. Por outro lado, o nível de fósforo no pecíolo duplicou em todas as variedades usando 'Salt Creek' como porta-enxerto. Os níveis de potássio também foram afetados pelos porta-enxertos 'Harmony' e '1613C' que apresentaram níveis mais elevados de potássio em pelo menos 60% nas variedades Flame Seedless, Red Globe e Thompson Seedless, em comparação com plantas cultivadas em pé franco, ou seja, com suas próprias raízes.

No Vale do São Francisco não temos trabalhos de pesquisa aprofundados sobre o comportamento das diversas variedades produzidas sobre pé franco e sobre os diversos porta-enxertos utilizados na região, porém não é difícil perceber quais são os porta-enxertos que tem um comportamento similar ao 'Salt Creek' do trabalho de Sierra B. e Ibacache G. (2009). O que tenho percebido é que os porta-enxertos como IAC 766, IAC 572 e IAC 313 são aqueles que mais apresentam problemas de desequilíbrio entre massa foliar em relação ao desenvolvimento do sistema radicular, que acarreta perdas de produção por desordens nutricionais como abortamento, necrose do cacho e desidratação de frutos devido principalmente ao fornecimento excessivo de nitrogênio, e em variedade de cor, problemas na coloração.

Essas informações são evidências e provas bastante contundentes que corroboram com a tese de que não cabe mais o uso de tabelas de nutrição para cada variedade, independente do porta-enxerto, análise química, análise física e fertilidade biológica do solo.

3. Nitrogênio Total

Uma forma de estimar o nitrogênio disponível para as plantas é através do nitrogênio total, ponderado pela porcentagem de mineralização, estimado para a condição climática de onde se localiza o solo e pela eficiência de absorção desse nutriente. Do nitrogênio total, cerca de 6% se mineraliza em condições de clima semi-árido, permanecendo em formas assimiláveis para a planta ao longo do ciclo de cultivo. Porém deste nitrogênio mineralizado, a planta é capaz de absorver cerca de 55% em condições normais de manejo do solo, irrigação e crescimento das raízes (Figura 1).


4. Nitrogênio Mineral - Nitrato (NO3-) e Amônio (NH4+)

O fornecimento de nitrogênico pelo solo é um processo biológico, que é afetado significativamente pela temperatura e a umidade. O nitrogênio mineral só corresponde ao mineralizado no momento da retirada da amostra e não pode estimar o poder de mineralização durante o ciclo. A biomassa microbiana é a responsável pela mineralização de carbono e nitrogênio orgânico do solo, no entanto esse processo está acompanhado pela imobilização, processo normal que ocorre nos solos e que depende da relação C/N.  Por isso vários pesquisadores discutem a confiabilidade do método do nitrogênio mineral como índice apropriado para diagnóstico da fertilidade nitrogenada de um solo.

5. Relação C/N

Para o cálculo da relação C/N se consideram os valores do nitrogênio total e do carbono total. É um parâmetro utilizado para relacionar o nitrogênio total com a matéria orgânica do solo.

Os processos de mineralização e imobilização são simultâneos no solo e podem ser estimados pela relação C/N. Quando a relação C/N é alta, haverá imobilização do nitrogênio. Quando a relação C/N é menor, quer dizer que o fornecimento de energia (carbono) diminui. Uma proporção da população microbiana morre devido ao decréscimo do alimento disponível e se alcança um novo nível de equilíbrio. Nesse novo nível de equilíbrio,  há liberação de nitrogênio mineral que pode alcançar níveis excessivos para as plantas (Tislade e Nelson, 1970).

De forma geral, com relação C/N maior que 30 há imobilização de nitrogênio. Para relações entre 20 e 30, pode ser que não haja nem imobilização nem liberação de nitrogênio. Se a relação é menor que 20, o balanço entre mineralização e fixação tende levemente para mineralização. Porém muitos outros fatores interferem no balanço mineralização/imobilização como por exemplo a qualidade do substrato orgânico aportado ao solo. Relação C/N entre 10 e 12 são desejáveis e ótimas, pois produzem um balanço ideal entre mineralização e imobilização permitindo níveis adequados de nitrogênio mineralizado e disponível para as plantas e uma proporção imobilizada que permite que o nitrogênio não sofra tantas perdas. Por outro lado valores superiores a 15 promovem imobilização (Figura 2).


Seus comentários são muito importantes e deixo aqui um agradecimento especial às pessoas que enviam feedbacks e críticas, seja pelo Blogger, pelo whats App ou Face Book. Estamos juntos! Eu acredito que estudar e se aproximar da pesquisa séria é o caminho para contribuir com a produção de Uva de Mesa e acima de tudo proporcionar cada vez mais soluções efetivas e adaptadas às necessidades e particularidades de cada cliente.

Jeverson Magrini
Consultoria e Assessoria em Fruticultura Irrigada
Raiz Consultoria




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